quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Presente do Patati Patatá

Acabo de passar por uma experiência pra lá de contemporânea e convergente. E, detalhe, tem tudo a ver com cultura, mas também com consumo infantil, escola e publicidade. Essa experiência teve muitos fatos ruins e bastante comuns, mas tá recheada de boas intenções. Ela começou com uma grande festa, um show dos palhaços Patati Patata.
Adivinha onde? Bingo!!! Na ESCOLA. Os palhaços fazem shows gratuitos na escola com a contrapartida de vender um KIT de CDs e DVDs. Uma prática bastante comum nos dias de hoje. Afinal, quem é da área de cultura sabe o quanto tornou-se ainda mais difícil vender CDs e DVDs. Tudo pode ser copiado e distribuído de graça. Vivemos a era criminosa da pirataria!!!

Além disso, quem vive de cultura conhece (há séculos) as barreiras do patrocínio, do mecenas, da mídia de massa (TV) e haja barreira para ser reconhecido como artista neste país de talentosos e criativos. Por isso, criar alternativas novas para distribuir produtos culturais é quase uma inovação. E a escola virou um desses canais. Não só do Patati Patata, mas de muitos outros artistas.


Certo ou Errado? Eu acho que Certo e Errado. Vamos por partes:
1- Escola é lugar de show? Certo. Eu acho que sim. Defendo até que toda escola deveria ter um comitê de pais para pensar a cultura da comunidade e, se possível, manter um gestor cultural dentro da equipe pedagógica para pensar a cultura na educação. Música nos ensina tanto: pertencimento de um grupo, identidade, alegria. É festa pura: cantar, dançar, abraçar, rodar, APRENDER. Tem tudo a ver fazer show musical em escolas.

2-Escola é lugar de vender CD e DVD para crianças? Errado. Pode até ser um canal para a venda como contrapartida para o show gratuito, mas essa é uma decisão pedagógica. Se a escola aceita isso, na minha opinião, ela deve obrigatoriamente alertar aos pais de que a responsabilidade do consumo é deles. E não das crianças. Portanto, são eles quem deve decidir pelo consumo.

3-A distribuição do CD e DVD vendido na escola deve ser feita pelos palhaços para as crianças? Errado. O produto deve ser entregue aos pais, responsáveis pelo consumo infantil. Só assim teremos condições de ensinar aos pais de que a responsabilidade do consumo infantil é deles. E não das crianças.

Essa é minha opinião, mas o mundo não é dividido em certo ou errado.  Fazer show musicais em escolas envolve muita coisa. Envolve, por exemplo, responsabilidade dos pais, publicidade infantil, consumo infantil, ética dos artistas e metodologia pedagógica. O Patati Patatá faz show de graça na escola e diverte muito as crianças, mas ele peca na hora da propaganda. Eles dizem às crianças que o KIT vendido é um presente dos palhaços. Eu não conhecia a dupla, quando veio da escola o formulário sobre o interesse de adquirir o KIT e a precaução da escola de colocar os produtos na mochila das crianças. Resultado: não tive interesse de consumir... logo, minha filha ficou sem presente. De quem é o erro???

Que erro?

Detalhe: minha filha não ficou sem o Kit, na cabecinha dela, ela ficou sem o presente.

Eu cheguei a conclusão de que o erro é de todos os adultos envolvidos nesta situação. Por mais cheio de boas intenções, nossas ações foram insuficientes para o mundo contemporâneo da cultura mercadológica.
Faltou ética do Patati Patatá: eles não devem atribuir a venda do produto ao presente merecido. Deveria fazer a entrega do produto adquirido antecipadamente pelos pais em outra data ou a venda do produto pelo site.
Faltou diálogo na escola: ela não deve assumir toda responsabilidade do consumo infantil. Deve trazer os pais para essa decisão cultural e quem sabe decidir em pagar uma quantidade específica de atrações cuturais para escola.
Faltou responsabilidade minha: não fui conhecer quem era o Patati Patatá. Pensei apenas: como não conheço, não compro. Lavei as mãos como mãe, deixei toda responsabilidade para escola. Não fui investigar como seria a entrega dos produtos. Como houve a precaução da entrega das mochilas, conclui que as crianças não teriam contato com este processo.

É, ter cultura em casa, nos dias de hoje, não é nada fácil. O tema vira publicidade, consumo e por aí vai. Mas para que esse blog realmente tenha sentido, ética e responsabilidade, queremos saber a sua opinião. Afinal, o que é certo ou errado no presente do Patati Patatá?

Seja bem vindo à nossa conversa! Comente abaixo e nos siga!

5 comentários:

  1. Oi, Ceila. Só pra variar, aqui estou, rsrs. As escolas se tornaram lugares cobiçados por uma série de profissionais, sejam eles da classe artística ou não: fotos, passeios, shows, livros, peças etc. Tudo é vendido, de certa forma, até quando é "de graça". Do ponto de vista de marketing e estratégia de venda, fantástico, são pontos de venda e forma de divulgação pouco explorados. Mas do ponto de vista educativo (não vou dizer pedagógico, pois não tenho essa formação para afirmar nada), fica complicado porque as crianças não estão na escola para serem bombardeadas por essas marcas e produtos/serviços. E se mesmo assim isso acontece, os pais deveriam receber um comunicado antes e com os termos certos do evento. Jamais o profissional que entra na escola e tem contato direto com as crianças deve falar que é um presente, um brinde, pois a criança não vai entender que esse "presente" como o pai ou mãe tem de comprar primeiro. Com a Sofia aconteceram umas duas ocasiões em que ela chegou em casa falando que era só dizer que ia ou então falar que queria tal coisa pra ir/receber. Tivemos de explicar que não era isso e precisa comprar, gastar dinheiro. Serviu pra ensinar um pouco essa relação. Mas nesse ponto realmente a escola deveria, mesmo que a empresa ou os profissionais responsáveis pelo evento não o façam, mandar um comunicado para os pais e perguntar se o filho pode participar, adquirir ou reservar, ou pelo menos, deixar alguma coisa acertada para esses profissionais entrarem em contato com os pais. Acredito que quando um artista assume a postura de apresentar seu espetáculo de graça, está fazendo uma divulgação do seu serviço e pode até fazer uma certa propaganda de seus produtos, mas só vender se os pais estiverem presentes e mesmo assim, fora do ambiente ou após o evento.
    Como sempre, escrevi demais, hahahahahahahaha.
    Grande abraço, cara amiga.

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  2. Olá Célia.
    A reportagem do meu blog é mesmo cópia da matéria da Revista Nova Escola. Eu inclusive deixo claro que é a reportagem na íntegra e coloco o atalho para a matéria no blog.
    Sempre cito a origem quando utilizo alguma matéria no blog.
    Há outros posts sobre a entrada na escola, é só escolheres o marcador "adaptação" que conseguirás lê-los.
    Abraços e gracias pela visita
    Priscila

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  3. Olá Célia!
    Menina, na época que recebi seu comentário no blog, falando do livro do Saci, eu estava tão atarefada (e ainda estou, rs) que realmente não tive tempo para dar-lhe um retorno. Depois não sabia em que post havia sido, me perdi.
    Agora, fazendo uma limpeza na caixa de mensagens do e-mail, achei sua mensagem arquivada e fui correndo no "Desabafo".
    Poxa, faz mesmo tanto tempo! A Lu ia fazer 10 anos e adorou ler o livro, que aliás, foi levado para a escola para leitura na semana do folclore. Hoje, Luana fará 13 anos, e o livro está aqui na nossa estante. Não, ele não está "encostado", ele está aqui pois temos muitas crianças na família, inclusive a irmãzinha da Luana, que tem 4 anos e o irmãozinho, de 11 meses. Nem toda mãe estimula a leitura de seus filhos. É o caso dessas crianças da minha família, rs. Então os livros estão aqui, esperando quando os pimpolhos vem nos visitar. É bom, revivo a leitura para pequenos, de olhos atentos, que adoram dar pitacos na história, dando um tom todo novo ã aquilo que já haviamos concebido. E tudo muda de novo.
    Adorei reler tudo de novo. Obrigada mais uma vez!
    Beijos

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  4. Oi, Ceila. Obrigada pela dica da chupeta, viu? Vim te ver e encontrei esta postagem "novinha" e adorei! Consumo infantil é um assunto que me interessa muito, desde antes de ser mãe. Minha enteada fez seu TCC (Jornalismo) sobre o assunto e o trabalho foi financiado pelo Instituto Alana. Trabalho bom - e resultado assustador. Sobre Patati/Patata+escola terei que fazer mesmo uma postagem. Ah sim, uma mãe que conheço comprou um Patati gigante para a filha e a menina (3 anos) quando recebeu: "Ah, o Patati...tá...cadê o Patatá?" Detalhe: totalmente blasé, a piveta não demonstrou a menor alegria com o presente.
    Bjin

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